Bruxismo do sono: possibilidades terapêuticas baseadas em evidências
A r t i g o I n é d i t o
Dental Press J Orthod 58 2011 Mar-Apr;16(2):58-64
Bruxismo do sono: possibilidades
terapêuticas baseadas em evidências
Eduardo Machado*, Patricia Machado**, Paulo Afonso Cunali***, Cibele Dal Fabbro****
Introdução: o bruxismo do sono (BS) é uma desordem de movimentos estereotipados e periódicos,
associados ao ranger e/ou apertar de dentes durante o sono, decorrentes da contração
rítmica dos músculos mastigatórios. Essa condição não é uma doença, porém quando exacerbada
pode ocasionar desequilíbrio e alteração das estruturas orofaciais. Dessa forma, surge a
necessidade de se obter terapêuticas efetivas e seguras para o controle e o manejo do paciente
bruxômano. As alternativas de tratamento variam desde terapêuticas orodentais e farmacológicas
até técnicas comportamentais-cognitivas. Objetivos: através de uma revisão sistemática
da literatura, tendo como bases de pesquisa a Medline, Cochrane, Embase, Pubmed, Lilacs e
BBO, no período compreendido entre 1990 e 2008, e com enfoque em estudos clínicos randomizados
e quasi-randomizados, revisões sistemáticas e meta-análises, esse trabalho teve como
objetivo analisar e discutir métodos de tratamento para o BS. Resultados: pela análise da literatura
verifica-se que existe uma grande quantidade de opções terapêuticas para o BS, porém
muitas das terapias não têm suporte científico que as sustente. Assim, a escolha terapêutica
deve ser pautada em evidências científicas e no bom senso clínico, objetivando uma melhora
na qualidade de vida do paciente bruxômano.
Resumo
Palavras-chave: Bruxismo do sono. Tratamento. Aparelhos orais. Medicamentos.
Comportamental-cognitivo.
* Especialista em Disfunções Temporomandibulares (DTM) e Dor Orofacial pela UFPR. Graduado em Odontologia pela UFSM.
** Especialista em Prótese Dentária pela PUC-RS. Graduada em Odontologia pela UFSM.
*** Doutor em Ciências pela UNIFESP e Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação em Odontologia da UFPR. Coordenador do
Curso de Especialização em DTM e Dor Orofacial da UFPR.
**** Doutora em Ciências pela UNIFESP. Mestre em Reabilitação Oral pela FOB/USP e Especialista em DTM e Dor Orofacial pelo CFO.
INTRODUÇÃO
O bruxismo do sono (BS) é considerado um
distúrbio de movimento relacionado ao sono1.
Essa parafunção é caracterizada pelo contato nãofuncional
dos dentes, que pode ocorrer de forma
consciente ou inconsciente, manifestando-se
pelo ranger ou apertar dos mesmos. Não é uma
doença, mas quando exacerbada pode levar a um
desequilíbrio fisiopatológico do sistema estomatognático.
Várias modalidades terapêuticas têm
sido sugeridas, mas não há um consenso sobre
qual é a mais eficiente20.
Em virtude de sua prevalência e dos danos
causados aos pacientes, seu correto diagnóstico
é de grande valor para a elaboração de adequados
planos de tratamento, que contemplam
1
1
5
6
11
2
Machado E, Machado P, Cunali PA, Dal Fabbro C
Dental Press J Orthod 59 2011 Mar-Apr;16(2):58-64
terapêuticas utilizando aparelhos e terapias orais,
medidas farmacológicas e terapias comportamentais-
cognitivas. Assim, o objetivo dessa revisão sistemática
da literatura é discutir, baseado em evidências
científicas, alternativas de tratamento para
o controle e manejo do bruxismo do sono.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada uma busca computadorizada
nas bases de dados Medline, Cochrane, Embase,
Pubmed, Lilacs e BBO. Os descritores de pesquisa
utilizados foram “sleep bruxism”, “treatment”,
“drugs”, “medications” e “oral devices”, que foram
cruzados nos mecanismos de busca. A lista inicial
de artigos foi submetida à revisão por dois avaliadores,
que aplicaram critérios de inclusão para
determinar a amostra final de artigos.
Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos
foram:
» Artigos publicados de janeiro de 1990 até
julho de 2008.
» Dentro de um contexto de uma Odontologia
Baseada em Evidências, foram incluídos
somente estudos clínicos randomizados
(RCTs) e quasi-randomizados, revisões sistemáticas
e meta-análises. Estudos pilotos não
foram incluídos.
» Os estudos deveriam englobar terapêuticas
para o tratamento do BS que envolvessem
medidas orodentais, farmacológicas e/ou
comportamentais-cognitivas.
» Artigos redigidos em línguas inglesa, espanhola
ou portuguesa.
RESULTADOS
Após a aplicação dos critérios de inclusão, obtiveram-
se 13 estudos, sendo o índice Kappa de
concordância entre os revisores de 1,00. Então,
esses estudos foram agrupados de acordo com as
modalidades terapêuticas: orodentais, farmacológicas
ou comportamentais-cognitivas (Gráf. 1, 2).
ODONTOLOGIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
- REVISÃO SISTEMÁTICA
Tratamentos orodentais:
dispositivos orais e reabilitações oclusais
Em uma revisão sistemática, Tsukiyama et
al.21 avaliaram os efeitos do ajuste oclusal como
tratamento para bruxismo, disfunções temporomandibulares
(DTMs), cefaleias e dor cervical
crônica. Onze estudos preencheram os pré-requisitos
de inclusão, sendo que três desses estudos
avaliaram o ajuste oclusal como terapia para
o bruxismo. Pela análise da literatura se concluiu
que não existem estudos clínicos que comprovem
que o ajuste oclusal seja superior às terapias
não-invasivas para o BS e a DTM.
Dubé et al.2, em um RCT controlado, duplocego
e cruzado, avaliaram a eficácia e segurança
de uma placa oclusal e uma placa palatal na redução
da atividade muscular e apertamento dentário
em uma amostra de 9 pacientes com BS.
gráfico 1 - Delineamento dos estudos incluídos. gráfico 2 - Tipos de terapias para o bruxismo do sono.
Estudos clínicos
randomizados (RCTs)
Tratamentos
farmacológicos
Aparelhos orais
Ajuste oclusal
Tratamento comportamental-cognitivo
e aparelho oral
Revisões sistemáticas
Bruxismo do sono: possibilidades terapêuticas baseadas em evidências
Dental Press J Orthod 60 2011 Mar-Apr;16(2):58-64
Os pacientes, de forma randomizada, utilizaram
ou a placa oclusal ou a placa palatal por um período
de duas semanas. Então, os tratamentos eram
cruzados e se seguia o uso por mais duas semanas,
sendo as terapias avaliadas por exames polissonográficos.
Os autores verificaram que houve uma
redução estatisticamente significativa no número
de episódios de BS com a utilização das duas terapias,
sendo que não houve diferenças devido ao
desenho dos aparelhos.
Em um RCT controlado, duplo-cego e paralelo,
Van der Zaag et al.22 compararam os efeitos
das placas oclusais e palatais no manejo do BS.
Uma amostra de 21 pacientes foi dividida de forma
randomizada entre os seguintes grupos: placa
oclusal (n=11) e placa palatal (n=10). Nesses indivíduos
foram realizadas duas avaliações polissonográficas,
sendo uma feita antes do início da
terapia e a outra após um período de tratamento
de 4 semanas. Os resultados do estudo demonstraram
que nem a placa oclusal, nem a placa palatal
tiveram influência sobre o BS ou sobre o
sono dos pacientes.
Harada et al.5, em um RCT controlado e cruzado,
compararam os efeitos de uma placa de
estabilização e uma placa palatal no manejo do
BS. A amostra foi constituída por 16 pacientes
bruxômanos que foram divididos de forma randomizada
em dois grupos (n=8) de acordo com a
placa utilizada, e a atividade muscular foi avaliada
por aparelho de eletromiografia portátil. Após
um período de utilização da placa de 6 semanas,
seguiram-se 2 meses sem a utilização de qualquer
placa. Então, os indivíduos foram cruzados entre
os grupos e passaram a utilizar a placa que ainda
não haviam usado, por mais 6 semanas. Os achados
do estudo verificaram que tanto a placa oclusal
quanto a placa palatal reduziram a atividade
muscular do masseter durante a noite imediatamente
após a instalação dos aparelhos. Contudo,
não houve efeitos após duas, quatro e seis semanas
de uso, sendo que não foram observadas diferenças
devidas ao desenho das placas.
Landry et al.9 realizaram um RCT controlado
e cruzado, comparando os efeitos de duas terapias
no manejo do BS: em uma, os pacientes utilizavam
um aparelho de avanço mandibular duplo (duas
arcadas) (AAM); e na outra terapia, os pacientes
utilizavam uma placa oclusal simples. A amostra
selecionada consistiu de 13 participantes, que realizaram
exames polissonográficos, com diagnóstico
de BS. Pela análise dos resultados, os autores concluíram
que, em curto prazo, a utilização temporária
do AAM está associada a uma notável redução
na atividade motora do BS, sendo que, em menor
grau, a placa oclusal também trouxe redução do
BS. Contudo, a utilização do AAM em 8 pacientes
trouxe efeitos adversos, como dor e desconforto.
Macedo et al.12, em uma revisão sistemática
publicada na Cochrane, procuraram avaliar a efetividade
das placas oclusais como alternativa de
tratamento para o BS. Os autores realizaram uma
busca computadorizada, no período de 1966 a
maio de 2007, incluindo somente estudos clínicos
randomizados ou quasi-randomizados. A amostra
final de artigos foi constituída por 5 RCTs. A terapia
com placa oclusal foi comparada a: placa palatal,
aparelho de avanço mandibular, estimulação
elétrica neural transcutânea (TENS) e a nenhum
tratamento. Os autores concluíram que não existe
evidência suficiente para afirmar que a placa oclusal
seja efetiva no tratamento do BS.
Tratamentos farmacológicos
Etzel et al.3 avaliaram os efeitos do L-triptofano
sobre o BS em um RCT duplo-cego. Utilizandose
de aparelhos portáteis de eletromiografia, uma
amostra de 8 pacientes identificados como bruxômanos
noturnos recebeu triptofano (50mg/kg) ou
placebo por 8 dias, seguidos de mais 8 dias com as
medicações invertidas. Dieta e hábitos alimentares
foram monitorados durante o período experimental.
Os achados do estudo demonstraram não
haver diferenças significativas entre as terapias, sugerindo
que a suplementação com L-triptofano é
ineficaz no tratamento do BS.
Machado E, Machado P, Cunali PA, Dal Fabbro C
Dental Press J Orthod 61 2011 Mar-Apr;16(2):58-64
Em um estudo clínico randomizado duplocego,
Mohamed et al.13 avaliaram 10 pacientes
com BS, para os quais foram administrados 25mg
de amitriptilina e 25mg de placebo, por uma
semana cada um. Os resultados mostraram que
nem a intensidade e localização das dores, nem
a atividade eletromiográfica do músculo masseter
foram significativamente afetadas pela terapia
com esse antidepressivo tricíclico. Com base nesse
estudo, baixas doses de amitriptilina não são
recomendadas para o controle do bruxismo do
sono, nem para os desconfortos associados a esse
distúrbio do sono.
Em outro RCT duplo-cego envolvendo a
amitriptilina, Raigrodski et al.17 avaliaram os
efeitos desse antidepressivo na atividade noturna
do músculo masseter e na duração do sono
em pacientes com bruxismo. A amostra foi
constituída por 10 mulheres, que receberam tratamento
ativo (amitriptilina 25mg/noite) e inativo
(placebo 25mg/noite) por um período de 4
semanas cada um. Um aparelho de eletromiografia
portátil foi utilizado para avaliar a atividade
do masseter. Os resultados demonstraram
que a administração de amitriptilina não diminuiu
de forma significativa a atividade muscular
do masseter, nem aumentou significativamente
a duração do sono.
O papel do sistema dopaminérgico no BS
foi estudado por Lobbezoo et al.11, em um RCT
controlado, duplo-cego e cruzado. Uma amostra
de 10 pacientes com BS recebeu baixas doses de
L-dopa associada à benserazida, e foi avaliada
em um laboratório do sono. Após a primeira noite
de ambientação, na segunda e terceira noites
os pacientes recebiam duas doses (100mg) de Ldopa
ou placebo, de forma cruzada, sendo uma
dose uma hora antes de dormir e a outra quatro
horas após a primeira. Foi verificado que a utilização
de L-dopa resultou em uma diminuição
na média do número de episódios de bruxismo
por hora de sono, mas essa redução demonstrou
ser modesta, sendo somente da ordem de 26%.
Lavigne et al.10, em um RCT controlado,
duplo-cego e cruzado, avaliaram os efeitos da
bromocriptina sobre o BS. A amostra do estudo
foi formada por 7 pacientes com BS avaliados
por polissonografia. Esses pacientes eram submetidos
a duas semanas de tratamento ativo ou
placebo e, então, passavam uma semana sem
nenhum tratamento. Em seguida, era realizado
o cruzamento de tratamentos na amostra. As
doses de bromocriptina variavam de 1,25mg
a 7,5mg (6 dias), indo até a dose de 7,5mg (8
dias). Pela análise dos resultados, a bromocriptina
não reduziu a frequência dos episódios de
bruxismo durante a noite ou a amplitude das
contrações do músculo masseter.
Avaliando os efeitos da clonidina (0,3mg) e do
propanolol (120mg) sobre o BS, Huynh et al.6 realizaram
um RCT controlado, duplo-cego e cruzado,
comparando essas drogas ao placebo. Uma amostra
de 25 pacientes com histórico e diagnóstico de BS,
divididos de forma randomizada em grupos, participou
desse estudo e foram monitorados por exames
polissonográficos. Os resultados demonstraram
que o propanolol (n=10) não afetou o BS, enquanto
a clonidina (n=16) diminuiu o tônus simpático no
minuto precedente ao início do BS, reduzindo o BS
pela prevenção da ativação da sequência de eventos
autonômicos e motores característicos do mesmo.
Também foi observada hipotensão pela manhã em
19% dos pacientes do estudo.
Um estudo não selecionado pelos critérios de
inclusão, visto que não era randomizado, mas com
informações interessantes, foi o de Saletu et al.18
Nesse estudo controlado e cego, foram investigados
os efeitos agudos do Clonazepam sobre o BS.
A amostra foi constituída de 10 pacientes, que
receberam, previamente, tratamento com placa
oclusal. Polissonografia e psicometria foram utilizadas
para avaliação dos pacientes, os quais receberam
Clonazepam ou placebo. A administração
de 1mg de Clonazepam melhorou de forma significativa
os índices de BS e também a qualidade
do sono, havendo uma boa tolerabilidade à droga.
Bruxismo do sono: possibilidades terapêuticas baseadas em evidências
Dental Press J Orthod 62 2011 Mar-Apr;16(2):58-64
Tratamentos comportamentais-cognitivos
Ommerborn et al.15 realizaram um RCT comparando
a placa oclusal (n=29) a um tratamento
comportamental-cognitivo (TCC) (n=28) no manejo
do BS. O TCC consistia de medidas como resolução
de problemas, relaxamento muscular progressivo,
biofeedback noturno e treinamento de
recreação. O tratamento para ambas as terapêuticas
durou 12 semanas, e os pacientes foram examinados
no pré e no pós-tratamento, bem como
aos 6 meses após a conclusão do estudo. Os achados
demonstraram redução significativa na atividade
do BS nos dois grupos, contudo os efeitos
foram pequenos. Além disso, o grupo TCC teve
uma tendência de retornar aos valores inicias do
estudo, quando comparado ao grupo placa oclusal.
DISCUSSÃO
Considerações sobre o tema devem sempre ser
tecidas a partir de uma leitura crítica da metodologia
utilizada pelos diversos autores. A utilização
dos princípios básicos de pesquisa permite aos
pesquisadores tentar controlar da melhor forma
possível os vieses do estudo, gerando maior grau
de evidência do mesmo. Dessa forma, critérios
metodológicos como cálculo amostral, randomização,
cegamento, controle de fatores envolvidos
e calibragem intra e interexaminadores tornam-se
ferramentas importantes para qualificar o nível de
evidência científica gerada19.
Dentro desse contexto de uma Odontologia
Baseada em Evidências, verifica-se que os tipos
de estudo mais comuns publicados em periódicos
brasileiros correspondem a estudos de baixo
potencial de aplicação clínica direta: pesquisas in
vitro (25%), revisões narrativas (24%) e relatos
de casos (20%). O baixo número de estudos com
maior força de evidência ressalta a necessidade de
ampliação do conhecimento de métodos baseados
em evidências entre os pesquisadores brasileiros14.
Pela revisão sistemática da literatura, verifica-se,
quando se avaliam modalidades terapêuticas para
o controle e manejo do BS, que os estudos selecionados
no presente trabalho apresentavam, em sua
grande maioria, amostras pequenas e um pequeno
tempo de acompanhamento dos resultados. Dessa
forma, com amostras pequenas e pouco representativas,
torna-se difícil extrapolar os resultados para a
população em geral. Além disso, muitos dos estudos
selecionados apresentavam um tempo de acompanhamento
relativamente curto, demonstrando a
necessidade de um acompanhamento longitudinal
maior para se avaliar a real eficiência e segurança dos
tratamentos propostos, sejam eles orodentais, farmacológicos
ou comportamentais-cognitivos. Isso se
torna importante visto que muitos fármacos, quando
usados por longos períodos, podem ocasionar
efeitos de tolerância e dependência nos pacientes.
Quando se analisam dispositivos orais como
forma de tratamento para o BS, verifica-se que
não existem evidências científicas significativas
de que a placa oclusal trate o BS, porém benefícios
quanto à redução no desgaste dentário são
observados12,22. Apenas dois estudos verificaram
redução nos episódios de BS e na condição eletromiográfica
do masseter com a utilização de
placas, porém um desses estudos teve um tempo
de acompanhamento de apenas duas semanas,
ao passo que o outro somente verificou a melhora
imediatamente após a instalação do aparelho,
sendo que nas reavaliações posteriores não foram
observadas melhoras2,5. Ainda, quando se compara
a placa oclusal à placa palatal (sem recobrimento
oclusal), verifica-se similaridade de resultados entre
ambas as modalidades terapêuticas2,5.
Já o aparelho de avanço mandibular, semelhante
aos dispositivos usados para o tratamento
do ronco e da Síndrome da Apneia Obstrutiva do
Sono (SAOS), demonstrou uma redução maior
nos episódios de BS quando comparado à placa
oclusal. No entanto, o mecanismo exato que explica
essa redução continua a ser investigado. As
hipóteses estão orientadas para a dimensão e configuração
do aparelho, presença de dor, redução da
liberdade de movimentação ou mudança na patência
das vias aéreas superiores9.
Machado E, Machado P, Cunali PA, Dal Fabbro C
Dental Press J Orthod 63 2011 Mar-Apr;16(2):58-64
Em pacientes bruxômanos, a opção por tratamentos
de caráter pouco invasivo e reversível deve
ser sempre a primeira escolha nos protocolos de tratamento.
Já a opção por terapêuticas irreversíveis,
como o ajuste oclusal, não possui embasamento
científico que a sustente, visto que não existem evidências
científicas de que o ajuste oclusal trate ou
previna o bruxismo do sono ou as DTMs8,21.
Em relação aos tratamentos farmacológicos,
a Clonidina apresenta papel de destaque, porém
está associada a efeitos adversos secundários, demonstrando
haver necessidade de mais RCTs controlados
e com tempo de acompanhamento maior
para ter-se ideia da sua real eficácia e segurança6.
Assim, o Clonazepam surge como uma alternativa
mais segura e com resultados satisfatórios em
curto prazo7,18. Vale salientar que o Clonazepam,
assim como outros fármacos benzodiazepínicos,
pode exacerbar a SAOS. Ou seja, se o paciente
apresentar diagnóstico de bruxismo e SAOS, o
Clonazepam pode estar contraindicado. Outro
fármaco também associado a bons resultados no
controle e manejo do BS é a L-dopa11. Já em relação
à amitriptilina, não existem evidências científicas
que justifiquem a sua utilização em pacientes
com BS13,17, mesmo fato que ocorre com o propanolol6,
o triptofano3 e a bromocriptina10.
Alvo de muitos estudos atuais na área de Dor
Orofacial, devido às suas propriedades analgésicas e
antinociceptivas, a toxina botulínica ainda não apresenta
RCTs em relação à sua atuação no tratamento
do BS. O que se observa na literatura são estudos
avaliando a toxina botulínica em situações associadas
ao bruxismo, como hiperatividade muscular e
dor miofascial4, ou em estudos sem grandes níveis de
evidência. Futuramente, com a realização de RCTs
controlados, com amostras representativas e com
tempo de acompanhamento longo, a toxina botulínica
poderá ser avaliada quanto à sua real eficiência
e segurança para o tratamento do BS.
Alternativas de tratamento comportamentalcognitivo
podem atuar em associação com outras
terapias, funcionando como um adjuvante no
controle do BS. É importante a conscientização
e a educação do paciente acerca da sua situação,
além da mudança de hábitos que possam estar influenciando
e perpetuando a sua condição. Medidas
como resolução de problemas, relaxamento muscular,
biofeedback noturno, higiene do sono e recreação
— ou seja, alternativas que reduzam a ansiedade
e o estresse —, tornam-se ferramentas para
a otimização dos resultados em situações de BS15,16.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
» A placa oclusal parece ser uma alternativa
de tratamento aceitável e segura em curto
e médio prazos, ao passo que, dentre os
tratamentos farmacológicos, o Clonazepam
ganha destaque como opção terapêutica a
curto prazo, visto que a longo prazo pode
ocasionar dependência.
» Os resultados dessa revisão sistemática da
literatura parecem indicar que o aparelho
de avanço mandibular e a Clonidina são os
mais promissores tratamentos experimentais
para o BS, porém estão associados a
efeitos secundários adversos.
» Verifica-se a necessidade da realização de
mais estudos clínicos randomizados, com
amostras representativas e com tempo de
acompanhamento longo, para avaliar a efetividade
e a segurança dos tratamentos propostos
para o controle e manejo do BS.
» Terapias comportamentais-cognitivas como
psicoterapia, biofeedback, prática de exercícios
físicos e mudanças no estilo de vida, que
visem à redução do estresse, podem ser coadjuvantes
no tratamento do BS.
» O BS continua a ser uma condição de etiologia
complexa, associada a inúmeros tratamentos
com prognósticos muitas vezes indefinidos.
Assim, tratamentos conservadores, pouco
invasivos e seguros devem ser os de primeira
escolha, sendo o paciente assistido por uma
equipe multidisciplinar, objetivando a restituição
de sua qualidade de vida.
Bruxismo do sono: possibilidades terapêuticas baseadas em evidências
Dental Press J Orthod 64 2011 Mar-Apr;16(2):58-64
Sleep bruxism: therapeutic possibilities based in evidences
Abstract
Introduction: Sleep bruxism (SB) is defined as a stereotyped and periodic movement disorder, characterized by
tooth grinding and/or clenching occurring during sleep, associated with rhythmic masticatory muscle activity. This
condition isn’t a disease, but when exacerbated may cause an unbalance and changing of orofacial structures. Thus,
it is necessary to obtain effective and safe treatments for the control and management of the bruxist patient. The
treatment alternatives ranges from oral devices to pharmacological and cognitive-behavioral techniques. Objectives:
This study, through a systematic literature review, having as research bases MEDLINE, Cochrane, EMBASE, Pubmed,
Lilacs and BBO, between the years of 1990 and 2008, with focus in randomized and quasi-randomized clinical trials,
systematic reviews and meta-analysis, had as objective to analyze and discuss possibilities of treatment for sleep bruxism.
Results: According to the analysis of literature there are a lot of treatment options for the SB, but many of the
therapies have no scientific support. Thus, the chosen therapy should be based on scientific evidences and in clinical
common sense, to an improvement in quality of life of the bruxist patient.
Keywords: Sleep bruxism. Treatment. Oral devices. Drugs. Behavior-cognitive.
1. American Academy of Sleep Medicine. International Classification of
Sleep Disorders. 2nd ed. Westchester: American Academy of Sleep
Medicine; 2005.
2. Dubé C, Rompre PH, Manzini C, Guitard F, De Grandmont P, Lavigne
GJ. Quantitative polygraphic controlled study on efficacy and safety
of oral splint devices in tooth-grinding subjects. J Dent Res. 2004
May; 83(5):398-403.
3. Etzel KR, Stockstill JW, Rugh JD, Fisher JG. Tryptophan
supplementation for nocturnal bruxism: report of negative results.
J Craniomandib Disord. 1991 Spring;5(2):115-20.
4. Guarda-Nardini L, Manfredini D, Salamone M, Salmaso L,
Tonello S, Ferronato G. Efficacy of botulinum toxin in treating
myofascial pain in bruxers: a controlled placebo pilot study.
Cranio. 2008 Apr;26(2):126-35.
5. Harada T, Ichiki R, Tsukiyama Y, Koyano K. The effect of oral splint
devices on sleep bruxism: a 6-week observation with an ambulatory
electromyographic recording device. J Oral Rehabil. 2006
Jul;33(7):482-8.
6. Huynh N, Lavigne GJ, Lanfranchi PA, Montplaisir JY, Champlain
J. The effect of 2 sympatholytic medications—propranolol and
clonidine—on sleep bruxism: experimental randomized controlled
studies. Sleep. 2006 Mar 1;29(3):307-16.
7. Huynh NT, Rompré PH, Montplaisir JY, Manzini C, Okura K, Lavigne
GJ. Comparison of various treatments for sleep bruxism using
determinants of number needed to treat and effect size. Int J
Prosthodont. 2006 Sep-Oct;19(5):435-41.
8. Koh H, Robinson PG. Occlusal adjustment for treating and
preventing temporomandibular disorders: Cochrane Review. In: The
Cochrane Library; 2007. Oxford: Update Software; 2007. Issue 4.
9. Landry ML, Rompré PH, Manzini C, Guitard F, Grandmont P, Lavigne
GJ. Reduction of sleep bruxism using a mandibular advancement
device: an experimental controlled study. Int J Prosthodont. 2006
Nov-Dec;19(6):549-56.
10. Lavigne GJ, Soucy JP, Lobbezoo F, Manzini C, Blanchet PJ,
Montplaisir JY. Double-blind, crossover, placebo-controlled trial of
bromocriptine in patients with sleep bruxism. Clin Neuropharmacol.
2001 May-Jun;24(3):145-9.
11. Lobbezoo F, Lavigne GJ, Tanguay R, Montplaisir JY. The effect of
catecholamine precursor L-dopa on sleep bruxism: a controlled
clinical trial. Mov Disord. 1997 Jan;12(1):73-8.
12. Macedo CR, Silva AB, Machado MA, Saconato H, Prado GF. Occlusal
splints for treating sleep bruxism (tooth grinding): Cochrane Review.
In: The Cochrane Library. Oxford: Update Software; 2007. Issue 4.
Referências
13. Mohamed SE, Christensen LV, Penchas J. A randomized doubleblind
clinical trial of the effect of amitriptyline on nocturnal masseteric
motor activity (sleep bruxism). Cranio. 1997 Oct;15(4):326-32.
14. Oliveira GJ, Oliveira ES, Leles CR. Tipos de delineamento de
pesquisa de estudos publicados em periódicos odontológicos
brasileiros. Rev Odonto Ciênc. 2007 jan-mar;22(55):42-7.
15. Ommerborn MA, Schneider C, Giraki M, Schäfer R, Handschel J,
Franz M, et al. Effects of an occlusal splint compared with cognitivebehavioral
treatment on sleep bruxism activity. Eur J Oral Sci. 2007
Feb;115(1):7-14.
16. Pereira RPA, Negreiros WA, Scarparo HC, Pigozzo MN, Consani RLX,
Mesquita MF. Bruxismo e qualidade de vida. Rev Odonto Ciênc.
2006 abr-jun;21(52):185-90.
17. Raigrodski AJ, Christensen LV, Mohamed SE, Gardiner DM. The
effect of four-week administration of amitriptyline on sleep bruxism. A
double-blind crossover clinical study. Cranio. 2001 Jan;19(1):21-5.
18. Saletu A, Parapatics S, Saletu B, Anderer P, Prause W, Putz H, et
al. On the pharmacotherapy of sleep bruxism: placebo-controlled
polysomnographic and psychometric studies with clonazepam.
Neuropsychobiology. 2005;51(4):214-25.
19. Susin C, Rosing CK. Praticando odontologia baseada em evidências.
1ª ed. Canoas: ULBRA; 1999.
20. Tan EK, Jankovic J. Treating severe bruxism with botulinum toxin.
J Am Dent Assoc. 2000 Feb;131(2):211-6.
21. Tsukiyama Y, Baba K, Clark GT. An evidence-based assessment of
occlusal adjustment as a treatment for temporomandibular disorders.
J Prosthet Dent. 2001 Jul;86(1):57-66.
22. Van der Zaag J, Lobbezoo F, Wicks DJ, Visscher CM, Hamburger
HL, Naeije M. Controlled assessment of the efficacy of occlusal
stabilization splints on sleep bruxism. J Orofac Pain. 2005
Spring;19(2):151-8.
Endereço para correspondência
Eduardo Machado
Rua Francisco Trevisan, no. 20, Bairro Nossa Sra. de Lourdes
CEP: 97.050-230 - Santa Maria / RS
E-mail: machado.rs@bol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário